MONITORAMENTO Pantanal é área fundamental para conservação do Jaguar, alerta IHP

Instituto e parceiros têm instalado equipamentos de monitoramento e segurança para preservar a vida animal do Bioma.

Responsável pelo programa Felinos Pantaneiros, o IHP (Instituto Homem Pantaneiro) alerta que o Pantanal é fundamental para a conservação do Jaguar, o maior felino das Américas. O bioma possui condições propícias para a espécie, como a boa qualidade de habitats e populações estáveis de presas.

Por outro lado, o bioma também guarda ameaças aos Jaguares. “Uma das principais ameaças para o Jaguar é a caça por retaliação devido a este felino, eventualmente, atacar animais domésticos, como bois, cabras, cavalos e até mesmo cães e gatos”, afirma o médico-veterinário e coordenador do Felinos Pantaneiros, Diego Viana.

O IHP frisa que não há nenhum dado técnico que confirme que está ocorrendo um aumento de casos de ataques de onças-pintadas a cachorros e gatos na região pantaneira. “A percepção pode ser subestimada, como já ocorreu em trabalhos referentes ao número de casos de ataques de onças a bois. Muitas vezes, o impacto percebido é maior do que o impacto real, intensificando as ameaças aos felinos”, pontua Viana.

Com atuação de décadas no Pantanal, o presidente do IHP, coronel Ângelo Rabelo, afirma que ataques de Jaguares a seres humanos são raros e, geralmente, estão associados a situações de caça ilegal. “Oficialmente, o registro que temos é um ataque fatal em Cáceres, em 2008. E é uma situação bem específica, que ocorreu em uma área onde havia a prática de fornecer alimento aos Jaguares, o que é proibido por lei. Isso potencializou o risco de ataque”, lembra Rabelo.

Uma equipe formada por médicos-veterinários e biólogos do IHP tem acompanhado os casos de ataques de onças-pintadas a cães da comunidade Barra do São Lourenço, na Serra do Amolar. “No Pantanal, as onças-pintadas tendem a escolher suas presas por influência do regime de inundação do bioma. Foi justamente no período de cheia que os casos de ataques a cães aumentaram na região do Rio Paraguai”, destaca o coordenador do Felinos Pantaneiros.

De acordo com Rabelo, é importante destacar que o IHP tem prestado auxílio à população, por meio da implementação de estratégias já testadas pelo programa Felinos Pantaneiros, como instalação de repelentes luminosos, sugestões de manejo para os animais domésticos, principalmente no período noturno, entre outras.

“Temos buscado apoio de outras instituições, mas, principalmente, temos amparado estas comunidades. Não podemos colocar a onça-pintada como uma vilã. Por isso, temos investido em ações de educação ambiental, implementado estratégias que surtem efeito e, claro, prestado atendimento aos cães feridos”, explica o presidente do IHP.


Cercas instaladas têm protegido animais de propriedades rurais no Pantanal.

Atualmente, existe um grupo de discussão formado por pesquisadores do IHP, ICMBio/Cenap, Embrapa, Ecoa, Panthera e Onçafari. O grupo tem o objetivo de apresentar possíveis estratégias de mitigação para o conflito, além de apurar o número de casos de ataques de Jaguares a animais domésticos, nas regiões de Corumbá, Ladário (ambas em MS) e Poconé (MT).

“É sabido que a coexistência harmônica é totalmente possível. Hoje, os moradores das comunidades da Serra do Amolar já têm se beneficiado do turismo de base comunitária desenvolvido na região e também tem participado ativamente com os pesquisadores que trabalham no monitoramento dos Jaguares na região. A coexistência entre os Jaguares e o homem pantaneiro é histórica.”, finaliza Ângelo Rabelo.

Fonte: ANDA

Tráfico de animais Medicina tradicional asiática incentiva caça de onças na Amazônia

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Caçadores estão assassinando onças na região da Amazônia boliviana para traficar suas presas – usadas em supostos tratamentos de medicina tradicional asiática ou como amuletos. Contrabandistas pagam a caçadores até US$ 100 (R$ 340) por dente.

Autoridades suspeitam que o crime também ocorra em mais países sul-americanos, inclusive no Brasil.

Na Bolívia foram apreendidos 262 dentes entre 2014 e 2016. Para autoridades locais, isso significa que ao menos 65 felinos foram mortos no período – pois cada um possui quatro presas grandes. Ativistas da ONG boliviana Fobomade dizem que o número pode ser maior.

O governo boliviano diz que o fenômeno não é novidade na Região Amazônica e que o grande número de casos registrados no país seria fruto de campanhas nacionais para prender traficantes de animais e conscientizar a população.

Embora não tenha havido apreensões desse tipo no Brasil até agora, o Ibama diz suspeitar que caçadores e contrabandistas ligados ao tráfico de dentes de onça para o mercado asiático operem no país. No Suriname, ao menos dois casos suspeitos foram registrados.

Na Bolívia, as onças são chamadas de jaguares, na tradução do espanhol.

Elas não são caçadas diretamente pelos contrabandistas. Segundo a DGBAP (Direção Geral de Biodiversidade e Áreas Protegidas da Bolívia) e a Fobomade, indígenas e camponeses que moram na região da floresta são aliciados para matar os animais.

Por vezes, para chegar a esses caçadores locais, contrabandistas pagam por anúncios em emissoras de rádio de cidades pequenas, localizadas próximo à floresta amazônica. Os anúncios indicam um endereço onde eles podem ser vendidos.

“Os contrabandistas fazem isso por um dia e depois mudam de domicílio, então fazem (o anúncio) em outro lugar e mudam de domicílio de novo. É uma máfia”, diz à BBC Brasil Teresa Peres, chefe da DGBAP.

“O que mais se detectou é que os compradores são de procedência asiática”, disse ela.

Segundo ela, em uma das operações mais bem sucedidas do órgão, agentes da DGBAP e policiais se disfarçam de vendedores de dentes e se apresentam em um local indicado pela propaganda do rádio. Isso ocorreu em maio deste ano em Rurrenabaque, cidade próxima ao Parque Nacional de Madidi, uma das maiores reservas florestais da Bolívia.

Dois suspeitos de cidadania chinesa foram detidos com diversos dentes de onça pelos agentes disfarçados.

Esse tipo de ação policial continua ocorrendo, assim como fiscalizações nas florestas, segundo Peres. Mas uma boa parte das apreensões ocorre durante inspeções de pacotes nos correios da Bolívia.

Isso porque, para tentar evitar prisões em flagrante, os criminosos enviam os dentes e ossos para outras cidades ou países pelo correio.

Afrodisíaco

Autoridades e ativistas suspeitam que onças estejam sendo mortas na América do Sul em um processo similar ao que ocorreu com tigres no sudeste da Ásia.

O uso de partes de tigres para tratamento medicinal foi muito comum no passado, mas a prática foi banida pela maioria das associações e federações de medicina tradicional da Ásia na década de 1990. Embora a medicina tradicional chinesa seja um dos ramos mais conhecidos no ocidente, quase todas as nações do leste e sudeste do continente possuem suas próprias correntes.

De acordo com Reginaldo Filho, diretor da Ebramec (Faculdade Brasileira de Medicina Chinesa), ossos e dentes de grandes felinos eram geralmente usados na medicina tradicional chinesa para fortalecer o corpo humano e tratar dores. O órgão sexual do animal era usado no preparo de fórmulas ligadas à fertilidade.

“As pessoas dizem afrodisíaco, mas a medicina chinesa fala em fortalecimento. Você vai encontrar esses ingredientes em livros históricos de medicina, mas eles não são mais usados. Hoje combinamos dois ou três ingredientes para chegar a um resultado similar”, disse ele.

“Se alguns ainda usam partes de tigres, acredito que isso esteja mais relacionado a esoterismo ou misticismo local, isso não é medicina”, afirmou.

Preocupação

Autoridades brasileiras dizem estar preocupadas com o assunto.

“Por causa dessa superstição infundada já eliminaram a maior parte da população de tigres do sudeste da Ásia. Agora (traficantes de animais) estão se voltando para felinos de outros países”, afirmou à BBC Brasil o chefe das operações de fiscalização do Ibama, Roberto Cabral.

Mas estatísticas que liguem o assassinato de onças a práticas supostamente medicinais são escassas na América do Sul.

“Nós não pegamos um caso concreto no Brasil, mas existe uma grande possibilidade de que isso esteja ocorrendo”, afirmou Cabral.

A ONG Internacional Traffic – que investiga o tráfico de animais no mundo – afirmou já ter coletado indícios de que onças poderiam estar sendo mortas com esse propósito na Guiana e no Suriname. Em 2015, a entidade diz ter monitorado dois casos concretos no Suriname – e em ao menos um, cidadãos chineses foram investigados pela polícia local.

“Obviamente a existência de um comércio aparentemente irregular de partes de onças na Amazônia Sulamericana é uma causa de preocupação e precisa de uma investigação para determinar sua escala e o impacto que pode estar tendo nas populações de onças na região”, afirmou à BBC Brasil Richard Thomas, um dos porta-vozes da organização.

Teresa Peres, do órgão ambiental do governo boliviano, afirmou que essa prática ocorre há muito tempo na Amazônia.

“Desde o momento em que se faz um controle rigoroso, a estatística sobe. Esse tema de tráfico não é recente”, disse.

Também não é possível saber exatamente se todos os dentes e ossos de onças apreendidos seriam usados em praticas medicinais. Isso porque garras, presas e peles também são usados como amuletos e itens de decoração.

“O Estado Plurinacional da Bolívia está colocando todos os esforços e tudo o que está a seu alcance para preservar o ecossistema”, disse Peres.

O ativista Daniel Manzaneda, da Fobomade, afirmou que o aumento da procura por dentes de onça pode estar relacionado à entrada recente de cidadãos de países asiáticos na Bolívia – relacionada a grandes investimentos chineses na região.

Peres disse porém que não haveria dados concretos que permitam fazer essa relação.

Cabeças de onça

O Brasil registrou 42 apreensões de partes de onças nos últimos cinco anos, segundo o Ibama. Segundo Cabral, a maior parte dos casos está relacionada à expansão agropecuária no Brasil, que tem causado a fragmentação do habitat natural das onças.

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No norte do país, as onças pintadas acabam atacando animais de rebanhos bovinos em criações extensivas. “Os fazendeiros não toleram perder seus animais para as onças”, afirmou. Eles contratam então caçadores para abatê-las. Também é comum a caça por madeireiros que operam na selva, segundo o delegado Marcos Lemos, da Delegacia de Combate a Crimes Contra a Fauna e Flora do Pará.

“Quando encontramos acampamentos ilegais (de madeireiros) há animais mortos de todos os tipos. As onças são mortas por causa do couro, que é vendido a colecionadores”, disse.

Mas a maior apreensão de todos os tempos ocorreu no último mês de agosto, em Curionópolis, cidade próxima da selva amazônica no Pará. Ela não está relacionada à pecuária ou madeireiros, mas ao tráfico de animais.

Um único caçador foi encontrado com partes de 16 onças, duas suçuaranas e uma jaguatirica. Ele mantinha cabeças, crânios e patas em um refrigerador. Recebeu multa de R$ 460 mil por matar, mutilar e armazenar os animais – além de ser preso devido a uma investigação sobre posse ilegal de armas e crimes ambientais.

Tática

Os safáris clandestinos são outra modalidade de assassinato. Segundo o delegado da Polícia Federal Mário Nomoto, quadrilhas promoviam safáris no Pantanal – onde é mais fácil enxergar as onças do que na fechada selva amazônica.
“Caçadores internacionais pagavam grandes montantes de dinheiro para caçar onças por diversão”, disse.

O policial afirmou que sucessivas operações da polícia praticamente acabaram com esse tipo de crime, mas a fiscalização continua.

Ele explicou ainda que caçadores que operam no Brasil têm uma tática específica: eles usam um instrumento que reproduz o rugido das onças para atraí-las.

Depois soltam um grupo de cães para rastrear a onça e forçá-la a subir em uma árvore – onde se torna um alvo fácil para disparos de armas de fogo.

Leis

A legislação local é crucial no combate à caça, segundo autoridades. De acordo com Teresa Peres, na Bolívia, suspeitos estão sendo processados com base em uma lei que prevê de um a seis anos de prisão para esse tipo de crime.

No Brasil, segundo Roberto Cabral, a legislação prevê penas em torno de seis meses a um ano de prisão. Em muitos casos a punição é uma multa e a prisão acaba sendo convertida em penas alternativas.

“Por causa da fragilidade da legislação conseguimos identificar os caçadores, mas muitos continuam na ativa”, disse o chefe de fiscalização do Ibama

Fonte: ANDA