Um triste episódio levou à óbito uma gambá-de-orelha-preta em Osasco (SP), essa semana. E mostra, de forma lamentavelmente chocante, a força do amor materno. “No dia 28, durante a noite, a gambá entrou no hall do prédio onde eu moro e foi espancada com um cabo de vassoura por vários moradores. Bateram nela até mesmo quando ela já estava imóvel no chão, e ainda a arrastaram e jogaram da escada! Eu não estava lá na hora”, conta Eliane Gamba.
Na terça de manhã, dia 29, o filho de Eliane encontrou a gambá agonizando e a levou para casa. “Vimos então que ela tinha 8 filhotes dentro do marsúpio (bolsa na barriga dos marsupiais como cangurus e coalas). Ficou deitada no chão, de barriga para baixo a madrugada toda tentando proteger os filhotes. Tentamos salvá-la com medicamentos, soro e mantendo ela aquecida, mas ela apanhou tanto que não resistiu, pois, estava muito debilitada, com os dentes quebrados, nariz sangrando e tossindo sangue”, diz o depoimento de Eliane no facebook que já teve mais de 23 mil curtidas e dezenas de compartilhamentos em grupos.
“Foi mãe até o último segundo. Ela só largou os filhotes quando viu que não faríamos mal a ela. Ela deixou os filhotes na casinha e saiu para morrer no colo da minha mãe”, complementa Renato Gamba Romano, filho de Eliane, em relato também publicado no facebook. Eliane acionou a Polícia Militar Ambiental no dia 30 e a família de gambás foi levada pela unidade de Barueri que, em entrevista para a Anda, disse que os filhotes foram entregues vivos ao Parque Ecológico Tietê para mais cuidados.
O terrível ataque, que pode ser encarado por muitos como crime ambiental “coletivo”, mostra o quanto a população está despreparada para lidar com esse tipo de situação quando um animal silvestre ou selvagem entra num estabelecimento privado. O gambá-de-orelha-preta, por azar, ainda pode ser confundido com ratazanas devido as características físicas mas, como dito acima, é um marsupial, não ataca e nem transmite doenças. A fêmea não exala o mau cheiro que é uma estratégia de defesa apenas dos machos dessa espécie, o que as faz pareceram ainda mais com ratazanas.
Muito diferente de outros mamíferos, os gambás terminam a gestação na “bolsa” da mãe. Nela ficam por três por meses até poderem ser soltos, mas ainda assim sob os cuidados maternos. Se a mãe morre numa fase em que ainda estão muito prematuros, a sobrevivência é praticamente impossível. Quando já estão com alguma pelagem, que é o caso desses oito filhotes, têm mais chance de serem salvos com a ajuda humana. A Polícia Militar Ambiental informa, diante desse caso, que é “época dos gambás” e, portanto, aumentaram os casos de filhotes órfãos entregues, principalmente, nas unidades de Barueri, Horto Florestal e Mairiporã, áreas próximas da Mata Atlântica.
A orientação é que nos casos desses animais invadirem estabelecimentos privados ou casas, o animal seja motivado a fugir para a mata ou contido, de forma não violenta, em algum recinto até a chegada da Polícia Ambiental. Não sendo possível essas alternativas a Polícia Ambiental deve ser acionada pelo fone 5085-2100. Machucar, envenenar e matar esses animais é crime ambiental previsto na Lei 9.605 de 1998. A Anda está acompanhando o estado dos filhotes e em breve dará mais notícias.
Fonte: ANDA