Tutores estão abandonado seus animais domésticos devido a fake news afirmarem que cães e gatos transmitem a Covid-19. A Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA), do Reino Unido, aponta que já recebeu cerca de 1,5 mil denúncias de animais abandonados no país desde o início da pandemia. Para tentar estancar os danos causados pela desinformação, a RSPCA dará início a uma campanha de conscientização esclarecendo que animais domésticos não são transmissores do novo coronavírus e que abandonar um animal indefeso é um crime cruel e covarde.
Além do número de abandonos, também é crescente o registo de episódios de maus-tratos contra animais. Um poodle de apenas dois anos de idade foi arremessado da sacada de um edifício e um coelhinho ferido foi abandonado dentro de uma caixa de papelão repleto de míiases. No início da quarentena, em Março, Chris Laurence, presidente da Canine and Feline Sector Group, emitiu um alerta informando que cães, gatos e outros animais domésticos não transmitem a Covid-19 e que esse é um momento de união e solidariedade.
O inspetor da RSPCA, Chris McGread, fala sobre a importância da informação. “Na maioria dos casos, não sabemos por que os animais são abandonados, mas é realmente importante lembrar às pessoas que não há evidências que sugiram que o Covid-19 possa ser transmitido dos animais para as pessoas”, disse.
Risco inexistente
Um documento elaborado por 13 pesquisadores e endossado por mais de 60 cientistas reforça: cachorros e gatos não contraem nem transmitem o coronavírus que está adoecendo humanos em todo o mundo. Os pesquisadores pertencem ao Laboratório de Etologia Canina (Leca) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesf) e são de diversas áreas, como biologia, medicina veterinária e zoonoses.
O documento foi divulgado na plataforma Research Gate e elaborado pelos especialistas elaborado a partir do conhecimento pré-existente sobre zoonoses e de uma revisão de estudos sobre a relação entre a Covid e os animais domésticos, considerando as metologias aplicadas.
O grupo concluiu que a literatura científica é insuficiente para indicar que cães e gatos podem se contaminar com o coronavírus e, menos ainda, que poderiam transmitir a doença para humanos. A conclusão dos pesquisadores é a mesma da Organização Mundial da Saúde (OMS) que, desde o início da pandemia, tem alertado que não existem indícios que apontem a capacidade desses animais contraírem e transmitirem o vírus.
Apesar de cerca de cinco animais domésticos e um tigre terem testado positivo para o coronavírus no mundo – número baixíssimo quando se leva em consideração o tamanho da população mundial de animais domésticos -, a presença do micro-organismo não indica doença, conforme explicou a bióloga Natalia de Souza Albuquerque, doutora em comportamento animal e pós-doutoranda do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
“Foi detectado o vírus nesses animais, mas não se fala, ainda, do desenvolvimento da Covid-19. Uma coisa é encontrar o vírus, que não necessariamente está activo ou infectante. Outra coisa é desenvolver a doença”, explicou.
A veterinária Aline Santana da Hora lembrou que, “possivelmente, esse resultado é reflexo da contaminação ambiental que uma residência com uma pessoa com Covid-19 pode ter”. A profissional é pesquisadora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e doutora em epidemiologia experimental aplicada a zoonoses. Ela lembrou que animais domésticos contraem coronavírus, mas um tipo diferente daquele que está adoecendo e matando seres humanos.
“A maioria das infecções é as-sintomática. Além disso, os coronavírus que são próprios de animais domésticos não causam doença em humanos”, explicou.
Fonte: ANDA