ÁFRICA Demanda por carnes exóticas ameaça espécies protegidas

Residentes locais caçam animais ameaçados em extinção para vender sua carne nos mercados das cidades, pesquisadores alertam que as florestas estão sendo “esvaziadas” a um ritmo alarmante

Foto: Reuters

Caçadores africanos estão matando espécies ameaçadas de extinção nas selvas da África Central para vender sua carne nos mercados como forma de sobrevivência.

Pesquisadores alertam que as florestas da região estão sendo esvaziadas de animais a um ritmo alarmante por caçadores de “carne selvagem” que procuram ganhar dinheiro.

Mohamed Esimbo Matongu é funcionário do governo do Congo que também caça os animais protegidos, alegando que é a única maneira de garantir o sustento de sua família.

Uma vez por mês, ele sai de sua casa na cidade congolesa de Mbandaka apenas para caçar animais selvagens.

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Embora ele trabalhe para uma agência governamental, o congolês diz que precisa da renda obtida com a venda da maior parte do que mata para sustentar sua esposa e filhos.

“Quando eu era adolescente, tive que viajar mais de 10 km rio acima para encontrar animais para caçar. Mas agora tenho que percorrer 40 km para encontrar um terreno de caça decente”, disse Matongu, que tem 61 anos.

Quando vai caçar, aluga uma canoa e um par de remos e embala um rifle caseiro, uma dúzia de cartuchos e bastante kwanga, um pão tradicional feito de mandioca, o suficiente para durar por alguns dias.

Ele fica em uma cabana próxima de um afluente do rio Congo e percorre a floresta dia e noite em busca de qualquer animal selvagem que possa encontrar, incluindo macacos, antílopes da floresta, crocodilos, pítons e porcos do rio.

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Muitos animais, incluindo os macacos bonobo e os pangolins, são protegidos pelo direito internacional, mas a falta de supervisão do governo faz com que essas espécies ameaçadas de extinção sejam regularmente mortas.

Matongu diz que seu salário mensal de cerca de 75 dólares não é suficiente para cobrir as necessidades de sua esposa, quatro filhas, dois irmãos e sobrinho que vivem sob seu teto.

“Como devo alimentar, vestir, sustentar tantas pessoas? Às vezes, nem recebo o pagamento no final do mês”, disse ele. “Aqui é o Congo: tentamos fazer o possível para sobreviver”.

Para outros caçadores, como Celestin, um estudante de conservação em Mbandaka que pediu para não ser identificado na íntegra, a necessidade de sobreviver em um dos países mais pobres do mundo pode anular as preocupações com os animais.

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“Caçar algumas espécies é proibido, eu sei disso, mas me permite pagar meus estudos e sustentar minha família”, afirmou.

Depois de alguns dias caçando na floresta, Matongu vende a maior parte do que matou – ganhando de 5 mil a 100 mil francos congoleses (cerca de 7 a 60 dólares) – e guarda carne suficiente para sua família por alguns dias.

Sua captura vai para os mercados de Mbandaka, onde milhares de comerciantes se reúnem toda sexta-feira para comprar carne de animais das barcaças que chegam.

Os estandes estão cheios de crocodilos, lagartos-monitor, além de macacos recém-mortos, antílopes e outras espécies que ficam amarradas e expostas nas barracas.

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Fonte: ANDA